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A história do escritor que ensaia e traduz a liberdade

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Escritor, historiador, ensaísta, tradutor, político e um livre pensador. E foi mesmo “LIVRE” o nome escolhido para o partido que fundou em 2014 e que nestas eleições europeias recolheu perto de 2% dos votos dos portugueses.

Rui Tavares tem 46 anos, viveu a infância dividido entre Lisboa e a Arrifana, no Ribatejo, e é uma figura que, aos poucos, tem vindo a ganhar notoriedade no panorama da política portuguesa. Na rede social Twitter, é o político mais influente em Portugal, estando à frente no ranking do socialista João Galamba e do deputado do CDS-PP Michael Seufert.

Até fundar o LIVRE, Tavares nunca tinha tido filiação partidária. Sempre muito ativo na imprensa anarquista e na reflexão libertária, apoiou partidos políticos como o MDP/CDE, a Política XXI e mais tarde o Bloco de Esquerda, e também candidaturas da área do PS ou PS/PCP em Lisboa. Em 2009, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu, como independente nas listas do BE. 

Não se autointitula de político de carreira nem de pessoa de aparelhos partidários, mas viu no LIVRE a ferramenta de combate a um problema que considera grave em Portugal: a venda da ilusão de que estamos a fazer uma escolha que não foi já feita antes. Tavares acredita que se está a dar “uma refeição que já foi mastigada” aos eleitores, pois os elementos das direções partidárias escolhem os candidatos dentro de um universo muito pequeno.

A aposta do LIVRE para esta escolha passa por eleições primárias abertas: as pessoas que se apresentam como candidatas fazem-no por iniciativa própria, desde que subscrevam os valores, ideais e princípios do partido. O ex-deputado do Parlamento Europeu entende que desta forma há uma maior riqueza na decisão, porque vai-se buscar candidatos a outras áreas da sociedade.

Irmão mais novo de um total de cinco, Rui Tavares é europeísta assumido. Apesar de nunca ter feito Erasmus nem Interrail, vê na União Europeia a salvação da Europa, que imagina como inteiramente democrática, ecológica, igualitária e solidária. Inicialmente, a ideia do nome “LIVRE” era mesmo que este fosse um acrónimo com os pilares do partido: a Liberdade, a Europa, a Esquerda e a Ecologia. Acabou por não resultar, pelo que “livre” define o partido, a sua atitude e o seu horizonte político.

Rui Tavares não discrimina em relação a este aspeto, tendo vários amigos de direita. Respeita o intelectual dos mesmos e vê na distinção esquerda/direita uma mera orientação espacial, como quem diz “esta garrafa está à tua esquerda”. No fundo, analisa esta dicotomia como uma forma de nos localizarmos no contexto político. Acrescenta, ainda, a necessidade dos conceitos “libertária” e “autoritária” associados a estas duas formas de estar na política. E assume-se como parte integrante de uma esquerda libertária, cosmopolita e ecológica.

O “libertário” inerente a Tavares nasceu numa biblioteca municipal, onde passou muitas horas da sua vida. Estudou História e História da Arte, especializou-se no estudo da História das Ideias e à volta dos livros e do conhecimento que foi adquirindo cresceu e ficou de esquerda. Em seu nome, algumas obras como O Pequeno Livro do Grande Terramoto, de história, a peça de teatro O Arquiteto e o ensaio A Ironia do Projeto Europeu; e Esquerda e Direita: Guia Histórico Para o Século XX vieram ao mundo.

Rui Tavares é um homem feliz com a simplicidade das coisas, que não gosta de carros, mas que é altamente materialista no que toca a livros. E deixa a promessa: “sou ecológico hoje, mas serei mais ainda amanhã”. De forma livre.

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